Academia Sul-mato-grossense de Letras (Blog N. 384 do Painel do Coronel Paim) - Jornal O Porta-Voz

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

PIB do Brasil terá 2º pior desempenho do mundo em 2016

A economia brasileira deve fechar 2016 com o segundo pior desempenho do mundo, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). A estimativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) do país "encolha" 3,5% este ano – resultado melhor apenas que a contração de 6% esperada para a Venezuela.

O levantamento considera os 188 países com dados disponíveis no FMI, e foi feito pelo G1 com base no relatório Perspectivas para a Economia Global, de outubro, e na atualização do mesmo, divulgada em janeiro.
Além de Brasil e Venezuela, apenas outros seis devem ver suas economias ficarem menores este ano: Bielorrússia (-2,2%), Grécia (-1,3%), Rússia (-1%), Guiné Equatorial (-0,8%), Argentina (-0,7%) e Serra Leoa (-0,7%).

O economista Paulo Figueiredo, diretor de Operações da FN Capital, concorda com a previsão do FMI, e afirma que o resultado previsto para o PIB de 2016 “nada mais é que reflexo de uma política econômica que resultou num desastre”.

“Isso vem se arrastando há alguns anos e culminou nessas taxas que de alguma maneira são até vergonhosas para um país do tamanho do Brasil e com a capacidade que o Brasil teria para crescer, de ser muito mais produtivo e estar muito melhor nesses rankings internacionais.”
Para o especialista, um dos pontos principais da economia brasileira atualmente “é o ajuste fiscal que nunca foi cumprido”, com o governo gastando mais do que arrecada. “E a ‘solução’ do governo é criar mais impostos, estrangulando mais ainda os setores produtivos e a população como um todo.”

Para Pedro Paulo Silveira, economista chefe da corretora Nova Futura, a queda esperada para 2016 é reflexo do resultado do ano anterior. “O FMI está acertando, e a principal causa da queda muito violenta do brasil em 2016 é o efeito da queda de 2015”, diz.

“O PIB de 2016 vem com uma gravidez de um número muito negativo herdado do ano de 2015. Isso é efeito da metodologia de cálculo, e apenas isso”, afirma o especialista, acrescentando que “as variações marginais trimestre a trimestre vão ser melhores em 2016, mas o número vai ser bastante negativo no acumulado do ano”.

Já o economista Gesner Oliveira, da Go Associados, discorda da previsão do FMI e diz que a retração do PIB em 2016 deve ser menor que a prevista pelo órgão: 3%, e não 3,5%. “A nossa previsão é um pouco melhor que a da entidade pela primeira vez na minha vida profissional”, afirma.

“Acho que o FMI pode ter exagerado marginalmente em suas projeções porque vejo algumas chances de aspectos positivos associados ao ajuste do setor externo, que tem sido rápido. O resultado da balança comercial é impressionante. Alguns segmentos industriais estão tendo oportunidade de crescimento, como a indústria petroquímica, que está substituindo importações, mais voltada para o mercado interno.”

Oliveira também aponta que mudanças nas relações comerciais entre Brasil e Argentina podem “atenuar a queda” da economia. “A Argentina tinha uma política comercial muito restritiva com as nossas exportações, em particular de automóvel. O novo governo atenuou um pouco”, diz. “Há uma tendência de reabrir o mercado argentino para exportações industriais brasileiras, isso é positivo, afeta diretamente a indústria.”
Já entre os maiores crescimentos esperados pelo FMI para este ano, nada de China: o Iêmen deve liderar, com alta estimada de 11,6% no PIB, seguido por Turcomenistão (8,9%), Butão (8,4%) e Mianmar (8,4%). Já o gigante asiático deve crescer "apenas" 6,3%. A economia mundial, como um todo, deve crescer 3,6%.

Já em 2017...
Para o próximo ano, a expectativa é que o Brasil caia algumas – poucas – posições no ranking de perdedores. Com previsão de PIB estagnado (0%), o país deve ter resultado melhor que as quedas previstas para Venezuela (-4,5%), Guiné Equatorial (-3%) e Samoa (-0,8%). Isso enquanto o PIB global deve ter uma expansão estimada em 3,8%.

Paulo Figueiredo afirma que “tudo indica que a gente tenha um cenário um pouco melhor em 2017”. “Tido vai depender do decorrer deste ano”, diz. “A gente vê o governo federal e a Câmara em pé de guerra, ninguém no plenário se entendendo. Isso vai dificultar as coisas.”
Já Pedro Paulo Silveira afirma que em 2017 deve haver crescimento positivo da economia brasileira, e não mais retração. “O efeito de herdar crescimentos negativos de um ano para outro em 2017 vai ser menor. Não tem tanto peso quanto teve em 2016 do PIB do ano anterior, e a gente vai estar crescendo um pouquinho mais.”

“Provavelmente o setor privado brasileiro já vai estar olhando para as eleições de 2018, e isso pode fazer com que o otimismo aumente, fazendo a economia ter um impulso”, acrescenta. “Trabalho com viés de alta, mas não muita coisa, entre 1,5% e 2%.”

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Clube obrigar babá a usar branco é manter estigma da escravidão, diz diretora de 'Que horas ela volta?'

Desde que lançou Que horas ela volta?, a diretora de cinema Anna Muylaert virou uma espécie de porta-voz informal para questões envolvendo trabalhadores domésticos.
Seu filme, no qual a atriz Regina Casé vive a doméstica Val, escancara um tipo de relação entre patrão e empregado que é realidade em muitas casas brasileiras.
Diante da "novela" das babás de branco que teve início no ano passado, Anna topou falar com a BBC Brasil.
Durante a conversa, a diretora falou de sua revolta com as regras de clubes paulistanos em exigir uniforme branca das babás de crianças sócias.
O caso começou quando a advogada Roberta Loria, que é sócia do Esporte Clube Pinheiros (zona oeste), resolveu acionar o Ministério Público de São Paulo, após se revoltar com o fato de o local dificultar a entrada da babá de suas filhas por ela não estar com uniforme branco.
Veja os principais trechos da conversa com Anna Muylaert:
"Quando eu vi essa notícia (das babás sendo obrigadas a usar brancos pelos clubes), fiquei sem palavras. É uma regra extremamente autoritária, anacrônica, para marcar a divisão social. É algo que mantém o estigma da escravidão.
É como botar um anúncio, um aviso claro como uma melancia na cabeça, para que não haja confusão: eu sou um empregado, eu não entro na piscina, eu não sento na mesa.
Achei tudo tão terrível que fiquei pensando: 'Até quando a gente vai achar legal ter escravo?'
É óbvio que se a babá e os patrões concordarem com o uso do uniforme branco, se ela quiser, não é nenhum problema. Agora, um clube exigir roupa branca, isso é querer manter uma situação em que os sócios são sempre privilegiados.

Direitos negados

Mas como fomos criados em meio a essas regras, o que acontece é que a Val (doméstica protagonista do filme, interpretada pela atriz Regina Casé) achava normal ela nunca ter entrado na piscina do patrão. E a babá do Pinheiros não achava um grande problema o clube obrigá-la a usar branco.
Claro que elas vão achar normal. São direitos que nunca lhes foram dados. Mas é justamente por isso é que é tão importante ter pessoas que tomam atitude, como a Roberta.
É preciso muito esforço para mudar. E não é fácil, porque parte da elite do Brasil quer manter tudo como se fosse há 400, 500 anos atrás. 'Eu vou contratar uma mulher por um preço baixo e vou continuar na corte.'
Uma amiga minha uma vez reclamou que a empregada dela foi dormir no meio da festa que ela estava dando, já de madrugada. Eu virei e falei: 'Olha, a escravidão acabou'.

Cinismo

Outro dia eu vi no Twitter uma frase genial: "Aplaude Que horas ela volta? no Facebook, mas em casa reclama que a empregada não sabe fazer estrogonofe".
Isso representa muito bem que uma coisa é discutir a coisa na teoria e a outra é colocar em prática.
Outro dia, em uma palestra, uma menina que era filha de doméstica me contou como ainda recebe olhares de cima para baixo.
Exemplo assim mostram que ainda temos um longo caminho para avançar.
Mas acho que alguma coisa já começou a mudar. Só de estarmos conversando sobre isso já é algo. Antes, isso nem era discutido.
[Alerta de spoiler para quem não viu Que horas ela Volta?]
A babá topar usar branco no shopping mas ciente que isso é para a mãe da criança posar de madame é a Val entrando na piscina da casa dos patrões.
Elas começaram a ver, elas já estão num outro patamar."