sexta-feira, 6 de setembro de 2019
A última batalha do Analista de Taunay
José Pedro Frazão*
Convidado a prefaciar a coletânea de crônicas do renomado "Analista de Toné" – pseudônimo do advogado e escritor aquidauanense e taunayense (“toneense”) Ney Rodrigues de Almeida –, intitulado Miúlo, assombro-me com a triste notícia do passamento do ilustre autor, que se despediu do plano terrestre na madrugada de 26 de agosto de 2019, em Campo Grande, deixando órfão e no prelo esse último livro. E por assim tombar ao término do Dia do Soldado, reporto-me à coincidência histórica aludindo ao seu tetravô Capitão Pisaflores (Zeferino Rodrigues de Almeida), herói da Guerra do Paraguai e partícipe da Retirada da Laguna, episódio bélico ocorrido nesta região pantaneira que assinala o trágico itinerário Laguna (Paraguai) - Porto Canuto (Anastácio), antigo território da Vila de Miranda.
Por ser descendente direto de Pisaflores, aquele que, segundo Taunay, foi o primeiro a atravessar o Rio Apa e de espada em punho pisar o solo paraguaio na invasão da Laguna, Ney foi efusivamente laureado em 2011 pela Câmara Municipal de Anastácio com a altíssima Comenda Visconde de Taunay, da qual tivemos a honra de ser o idealizador.
Não me valho da hermenêutica nem da sedutora sinestesia dos especialistas para explicar a essência literária, política e forense da obra do "Analista de Toné". Apenas testemunho, como privilegiado leitor, que esses textos reunidos trazem em seu âmago o fascínio que encantará os futuros candidatos à prazerosa leitura, caso esse livro seja publicado, destarte, em edição póstuma. Ressalto com proeminência a intimidade discursiva do conteúdo e do fenômeno linguístico da criação lexical (neologismo) que marca as crônicas do "Analista de Toné", escritas em um certo vernáculo “toneguês”, recheado de expressões “malocadas” pelo autor.
Quando Oscar Wilde diz que a finalidade do artista é criar coisas belas e que “todos sabem fazer história – mas só os grandes sabem escrevê-la”, obedecem-lhe os gigantes Machado, Rosa e Drummond e, ainda, cronistas consagrados, como Rubem Braga, Luís Veríssimo, Fernando Sabino, Clarice Lispector, entre outros ícones do gênero. Nesse sentido, pode-se dizer, com singular proporcionalidade, que a boa arte também emana da satírica pena do "Analista de Toné", que torna fantástico o cotidiano político das aldeias aquidauanenses, no Distrito de Taunay e entorno, demonstrando que o bom escritor nem sempre é aquele que inventa e escreve histórias, mas o que sabe dar vida àquelas por ele inventadas ou aprendidas.
Nos anos 90, quando a verve do Analista batia de tacape nos cocás políticos da cidade “Princesa do Sul”, engravidando de risos e reflexões a coluna semanal que ele assinava no jornal O Pantaneiro, logo se viam em pé-de-guerra os caboclos políticos das aldeias e da cidade. Sempre armada de humor e ironia – nos intervalos da lida forense – a caneta do advogado Ney Rodrigues se pintava para a divertida guerra. A dança das palavras seguia o rufar alegre dos tambores terenas, anunciando os acontecimentos da política local, com uma fantasiosa cortina de fumaça cômica desnudando a realidade. A cada crônica lançada no periódico aquidauanense, bradavam, de arco em punho, caciques tribais e citadinos, todos mirando a pena engenhosa do astucioso escritor.
A flecha mordaz do cronista, porém, atinge mais o sistema que as pessoas, porque ele se mostra, na verdade, um apaixonado guerreiro defensor da sua terra, do seu povo e da cultura indígena, mesmo tratando a todos com irreverência. Prova disso é o saudoso personagem prefeito Tico Ribeiro (ídolo e alvo preferido do advogado escritor), que o reconhecia como um artista e não como um crítico qualquer, pois o arguto alcaide sabia que só os maus políticos odeiam a arte, por ela ser um poder que eles não conseguem dominar.
Concluía o meu prefácio para ver ressurgir em terras de Taunay o seu principal Analista, reverenciando mais uma vez a sua aldeia, com antigas e novas crônicas reunidas com o misterioso título de Miúlo, para fulgurar na história literária de Aquidauana e de Mato Grosso do Sul. Mas ninguém sabia que o destino preparava a última batalha para o tetraneto de Pisaflores. Agora, o que resta para a cultura, envolta na boa lembrança desse grande homem e escritor Ney Rodrigues de Almeida, é a sua prosa jornalístico-literária, conservada na hibridez de sua arte que se perfila em transcendental pajelança com muitos caciques da literatura regional, tais como Lobivar Mattos, Manoel de Barros, Ulisses Serra e Hélio Serejo.
Que os céus de Aquidauana e do Olimpo Pantaneiro se iluminem de risos com a chegada do nosso querido Analista de Toné e de sua prosa imortal.
José Pedro Frazão
Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
segunda-feira, 26 de novembro de 2018
PAIXÃO PELAS ARTES EM NITERÓI
(José Pedro Frazão)
Estou em Niterói (RJ), onde cheguei no dia do seu aniversário de 445 anos de fundação (22/11). A comemorativa festa da arte corporal e musical no lado Arariboia da Baía de Guanabara cobriu-se de uma névoa de tristeza pela morte do mecenas e um dos maiores colecionadores de obras de arte contemporânea do Brasil, João Sattamini (83), ocorrida há dois dias (20/11/2018). Sattamini foi o motivador da construção do Museu de Arte Contemporânea (MAC) – monumento arquitetônico de singular estética em linhas retas e curvas projetado por Oscar Niemeyer e construído e inaugurado pelo município em 1996, no Mirante da Boa Viagem. O museu foi erguido porque Sattamini precisava expor a sua coleção de 1.250 obras de arte (avaliada em 100 milhões de dólares), hoje cedida ao museu.
Esse homem simples que estudou, trabalhou e venceu na vida, começou colecionando bolinhas de gude e revistas em quadrinhos de super-heróis, até apaixonar-se pelas artes, onde investiu sua fortuna. Comprava todas as obras de que gostava, nunca pelo preço, mas pela admiração ao trabalho dos artistas.
Encabeçam o milionário acervo de Sattamini 27 obras de Antônio Dias (falecido em agosto deste ano), 22 peças de Ivan Serpa, 22 de Lygia Clark, 20 de Rubens Gerchman, 14 de Iberê Camargo e muitas outras de genialidades como Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Maria Leontina, Alfredo Volpi, Milton da Costa, Aluísio Carvão, Tomie Ohtake, Daniel Senise, Ana Bella Geiger, Jorginho Guinle, Frans Krajcberg, Leda Catunda e muitos outros. João Sattamini tinha preferência pelo concretismo (concreto e neoconcreto) e a geração dos anos 80.
O Museu de Arte Contemporânea é uma futurista nave espacial da arte, que consagra não apenas a paisagem carioca e os artistas nacionais das pinturas e instalações, mas o arquiteto que o projetou e o mecenas colecionador que alimentava, como poucos, esse lado mágico da essência da criação humana.
https://www.facebook.com/josepedrofrazao.frazao?__tn__=%2CdC-R-R&eid=ARCxhv7bBdI38uIq7lklOKi6BmgJfep46HEQ0YZJC5pQpJzX5FiC8t1K9RHFITaAJJ2g2X8KGP-r-gUc&hc_ref=ARTYEZTNSg4aA6-cl2sdxWy24JJWX4-AgnTqNCrBpyjWFoUoB1N1Xm9Z4bZ3i_51FSY&fref=nf
(José Pedro Frazão)
Estou em Niterói (RJ), onde cheguei no dia do seu aniversário de 445 anos de fundação (22/11). A comemorativa festa da arte corporal e musical no lado Arariboia da Baía de Guanabara cobriu-se de uma névoa de tristeza pela morte do mecenas e um dos maiores colecionadores de obras de arte contemporânea do Brasil, João Sattamini (83), ocorrida há dois dias (20/11/2018). Sattamini foi o motivador da construção do Museu de Arte Contemporânea (MAC) – monumento arquitetônico de singular estética em linhas retas e curvas projetado por Oscar Niemeyer e construído e inaugurado pelo município em 1996, no Mirante da Boa Viagem. O museu foi erguido porque Sattamini precisava expor a sua coleção de 1.250 obras de arte (avaliada em 100 milhões de dólares), hoje cedida ao museu.
Esse homem simples que estudou, trabalhou e venceu na vida, começou colecionando bolinhas de gude e revistas em quadrinhos de super-heróis, até apaixonar-se pelas artes, onde investiu sua fortuna. Comprava todas as obras de que gostava, nunca pelo preço, mas pela admiração ao trabalho dos artistas.
Encabeçam o milionário acervo de Sattamini 27 obras de Antônio Dias (falecido em agosto deste ano), 22 peças de Ivan Serpa, 22 de Lygia Clark, 20 de Rubens Gerchman, 14 de Iberê Camargo e muitas outras de genialidades como Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Maria Leontina, Alfredo Volpi, Milton da Costa, Aluísio Carvão, Tomie Ohtake, Daniel Senise, Ana Bella Geiger, Jorginho Guinle, Frans Krajcberg, Leda Catunda e muitos outros. João Sattamini tinha preferência pelo concretismo (concreto e neoconcreto) e a geração dos anos 80.
O Museu de Arte Contemporânea é uma futurista nave espacial da arte, que consagra não apenas a paisagem carioca e os artistas nacionais das pinturas e instalações, mas o arquiteto que o projetou e o mecenas colecionador que alimentava, como poucos, esse lado mágico da essência da criação humana.
https://www.facebook.com/josepedrofrazao.frazao?__tn__=%2CdC-R-R&eid=ARCxhv7bBdI38uIq7lklOKi6BmgJfep46HEQ0YZJC5pQpJzX5FiC8t1K9RHFITaAJJ2g2X8KGP-r-gUc&hc_ref=ARTYEZTNSg4aA6-cl2sdxWy24JJWX4-AgnTqNCrBpyjWFoUoB1N1Xm9Z4bZ3i_51FSY&fref=nf
sábado, 17 de novembro de 2018
O político e o poeta
José Pedro Frazão
Políticos e poetas não são iguais, nem se parecem, apesar de concorrerem em habilidade no trato de palavras persuasivas. Nem mesmo com a insinuação do verso de Fernando Pessoa que propõe ser o poeta “um fingidor”, porque as dores e fingimentos que os dois apresentam não têm a mesma origem nem o mesmo fim. O poeta finge “a dor que deveras sente.”
Afora a coincidência da primeira sílaba de político e poeta, a semelhança que se nos apresenta é uma miragem em que a “Última Flor do Lácio”, fingindo-se de “inculta”, mas “bela”, se rende às malícias de ambos. É como se fossem o maribondo e a abelha, que sugam a mesma flor, mas não produzem o mesmo mel.
Que não se arme contra mim o ferrão do marimbondo político, mas é verdade que há uma questão de gênero: o poeta direciona sua malícia para o verbo; o outro, quase sempre, para a verba, com justa razão de sobrevivência, porque, na atualidade, verbo e verba são respectivamente alimentos naturais de um e de outro. Mas nada impede um político de ser poeta, para melhor entender as utopias; nem um poeta de ser um gestor público, para governar com sensibilidade e concretizar as utopias sociais.
Ao utilizar a arte poética visando à verba, o político invoca Autólico (o ícone mitológico da esperteza, da desonestidade). E ao se locupletar o poeta da arte do verbo para fins escusos é porque ele já não é mais – ou nunca foi – um poeta. É um simples marimbondo possuído por Sísifo (o ente mitológico mais astuto dos mortais, mestre da malícia e dos truques, que chegou a enganar a própria morte).
Imaginem, hoje, uma antologia de politerários brasileiros:
1 - um vereador “clássico” legislando ao estilo greco-romano, mas em causa própria, cegando Camões, dramatizando Shakespeare e zombando Cervantes;
2 - um “romântico” presidente do senado corrompendo Byron e assassinando Álvarez de Azevedo e a ética, tecendo fantasias e sentimentos para negar a verossímil propina de Sísifo e sustentar uma história de amor impossível (na mitologia grega, Autólico também era o ladrão que roubava o gado de Sísifo);
3 - um deputado caindo no grampo “realista” da polícia federal e na contradição “naturalista” do “jogo” do poder, preferindo Maquiavel a Machado de Assis;
4 - um “parnasiano” governador avesso a Bilac, deixando o cargo sem explicar o golpe aplicado ao erário, perdido em formas e palavras difíceis de aceitar, fazendo o remendo ficar pior que o soneto;
5 - um “simbolista” (ou simbólico) presidente nacional imortalizando chavões do futebol e derrotando a Educação (na contramão de Pitágoras) e com o subjetivismo de causar inveja a Cruz e Souza;
6 - um pseudomodernista líder venezuelano, mais podre que maduro, plagiando o socialismo de Gabriel Garcia Márquez, querendo ser a “chave” da questão latino-americana, com o risco de impingir-lhe mais “cem anos de solidão”.
Não dá certo. Político é político; poeta é poeta. Em cada dez políticos pode haver um poeta; em cada dez poetas, pode haver um político. Nem todo político é político; nem todo poeta é poeta. É como a poesia: de cada dez livros publicados, um contém alguma poesia; os demais são versos perdidos na ilusão que a arte não criou. Da mesma forma, os habilidosos manipuladores de verbos e verbas, discípulos de Sísifo e Autólico, são, na linguagem vulgar, políticos e poetas caça-níqueis, que somente aí se assemelham, porque não são nem políticos, nem poetas.domingo, 6 de novembro de 2016
Édson Paim doa três livros autorais à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
Édson Paim doa três livros autorais à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
Durante o Chá Acadêmico realizado em Campo Grande, dia 27 de outubro, pela Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, evento alusivo ao 45º aniversário da instituição, o coronel aposentado e escritor Édson Nogueira Paim foi recebido pela diretoria do sodalício, como convidado, e ofertou três livros (dois de sua autoria: “Sistemismo” e “Sistemas, Ambientes & Mecanismos de Controle”, e um de sua esposa, Rosalda Paim: “Teoria Sistêmica ecológica cibernética de enfermagem”), que passarão a integrar o acervo da biblioteca daquela casa de letras.
Na ocasião, Paim, que também é presidente da Fundação Portal do Pantanal, efetuou a entrega de suas obras ao presidente da ASL, Reginaldo Alves de Araújo, que se fazia acompanhar dos diretores Rubenio Marcelo (Secretário-Geral) e José Pedro Frazão (Secretário).
Nesse chá Acadêmico, o palestrante da noite foi o escritor Eduardo Mahon, ex-presidente da Academia Mato-Grossense de Letras, que veio de Cuiabá para também lançar o seu novo livro, intitulado "O Fantástico Encontro de Paul Zimmermann" – transformando o tradicional chá literário em Noite de Autógrafos, animado que foi pelo cantor e compositor ZéDu.
Além da entrega dos livros, que foi um ato de cortesia, Édson Paim retribuiu o convite da Academia com a sinalização de futura parceria entre a ASL e a Fundação Portal do Pantanal, sobretudo, no âmbito da educação, da comunicação e da cultura, em que poderão desenvolver conjuntamente projetos a serviço da comunidade.
Maria da Gloria Sá Rosa (foto: arquivo ASL) |
ACADEMIA DE LUTO - FALECE MARIA DA GLÓRIA SÁ ROSA | |||
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sábado, 5 de novembro de 2016
ASL 45 ANOS - A ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS E SUA HISTÓRIA
No dia 30 de outubro de 1971, Ulisses Serra fundou a Academia de Letras e História de Campo Grande, tendo como cofundadores José Couto Vieira Pontes e Germano Barros de Sousa.
Logo foram incorporados outros intelectuais, como J. Barbosa Rodrig... |
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